Introdução
A queda da burocracia, como tipo de organização que “penetrou gradualmente todas as
instituições sociais” (MOUZELIS, 1975, p. 18), foi prematuramente anunciada. E
prematuros se têm revelado, também, os discursos que garantem a emergência da
organização pós-burocrática, como alternativa capaz de superar boa parte das
caraterísticas que Max Weber reuniu na constelação de dimensões a que chamou
“burocracia”.
Ao invés, embora haja razões para admitir que algumas dimensões do “tipo-ideal”
weberiano se encontram em mutação ou até, eventualmente, em erosão, ou ainda sob
distintas formas de expressão na realidade, merecem ponderação os argumentos que
apontam para a intensificação, sem precedentes, de certas dimensões burocráticas. Com
efeito, outras categorias fundamentais de uma “autoridade racional legal”, que Weber
associou às necessidades de uma “administração de massa”, de tipo extensivo, típica de
uma alternativa consistente à “dominação tradicional” e à “dominação carismática”,
agora “baseada no saber” e no desenvolvimento da tecnologia e dos métodos
económicos (WEBER, 1964, p. 337-339), conhecem, atualmente, uma renovada e
amplificada presença empírica. O exagero, ou radicalização, de algumas das dimensões
organizacionais da burocracia - partindo da teorização do sociólogo alemão -, e
particularmente a sua potência, velocidade e capacidade de aceleração, através de fluxos
informacionais, da virtualização e da fluidificação típicas das tecnologias da informação
e comunicação (MARTINS, 2011, p. 334-342), podendo configurar uma “visão fáustica
da técnica e da ciência” orientada para a racionalidade instrumental, para a vontade de
poder e para o exercício de uma exponencial capacidade de controlo, em oposição a
uma “visão prometeica” ao serviço da emancipação (p. 37-69), são indícios que
justificam admitir a hiperburocracia como hipótese de trabalho. Tratar-se-á, em tal caso,
de uma burocracia aumentada, resultante de um processo de hibridização que ora perde,
ora mantém, certos traços da burocracia weberiana, que associa, eventualmente, novas
dimensões ao “tipo-ideal” original, que adquire novas e mais complexas propriedades
de extensão e de controlo, entre outras, induzidas por uma burocracia digital, ou
ciberburocracia. [...]
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