Por agregar uma notável elevação de valores aos alunos e um grande apoio ao aprendizado, o CPP aborda, nesta edição do Jornal dos Professores, a importância da música nas escolas públicas, com a opinião de diferentes profissionais ligados a área: a professora e cantora Magali Maria Geara Luiz Penna, o famoso multi-instrumentista e compositor, Caçulinha, e o regente do Coral da EE Ângelo Bortolo, em Bortolândia, José Rubens Silva Júnior.
Magali Maria Geara Luiz Penna, professora, cantora e bacharel em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, e mestre pela FE-USP, realizou estudos
que apontam mais problemas do que soluções. A pesquisa, da Faculdade de Educação (FE) da USP, analisou a Lei 11.769, aprovada em 18 de agosto de 2008, que traz a obrigatoriedade do ensino de música na educação básica pública.
Jornal dos Professores: O que aconteceu após a promulgação da Lei 11.769, que obriga o ensino de música nas escolas de educação básica pública? Quais são as dificuldades para o seu cumprimento?
Magali Maria Geara Luiz Penna: Essa Lei, que foi objeto de meu mestrado, instalou a obrigatoriedade do ensino do conteúdo musical nas escolas. Analisada com atenção, é uma lei confusa, pois obriga o ensino do conteúdo musical, e não da disciplina. Ela veta a necessidade de formação musical para o instrutor, alegando que no Brasil “todo mundo sabe música”. Assim, é uma Lei que atropela a LDB, que já prevê o conteúdo musical no ensino de Artes. Além disso, prioriza a música em detrimento das outras formas de expressão como dança, teatro ou artes visuais. Essa lei é uma ponte sobre o rio, sem acesso às margens. Não ajuda os alunos a atravessá-lo e não serve, no fundo, para nada, pois desvaloriza o professor, a qualificação deste, já que todo mundo ou qualquer
um pode ensinar música.
Jornal dos Professores: Por que essa disciplina acabou? O que impede os alunos das escolas públicas de aprenderem música?
Magali Maria Geara Luiz Penna: Os currículos vão sofrendo reformulações ao longo do tempo. Considere, por exemplo, que ficamos sem Filosofia ou Sociologia no ensino médio por um período.
Assim, conforme o interesse ou do governo ou da sociedade, essas alterações são feitas e depois nos damos conta da falta que algumas disciplinas fizeram ou ainda fazem. O impedimento do aprendizado de música nas escolas públicas ocorre, em grande parte, por dificuldades de acesso a instrumentos, por exemplo, ou por despreparo da educação formal para o ensino de Artes em geral.
Gostaria de acrescentar que não sou contra o ensino de música, mas que a lei em si gera mais confusão do que acertos. Caçulinha é o nome artístico de Rubens Antônio da Silva, famoso multi-instrumentista e compositor. É de Piracicaba, interior de São Paulo, conhecido internacionalmente por suas apresentações e por sua contribuição à MPB.
Jornal dos Professores: O que você gostaria de ver implantado nas escolas da rede pública, que ajudasse na implementação da música?
Caçulinha: Gostaria de implantar o canto orfeônico para que a matéria voltasse a falar sobre música. Fiz conservatório na História da Música. Tínhamos conhecimento sobre tudo, inclusive sobre as pessoas envolvidas com a música, Beethoven, Chopin - agora, as crianças não têm base, não conhecem nada. Hoje em dia, a música faz muita falta nas escolas. É por isso que neste país estamos chegando ao ponto que, musicalmente, a cultura é zero.
Jornal dos Professores: Você acha que a volta do canto orfeônico contribuiria de que forma na formação de nossos alunos?
Caçulinha: Se voltar a ter aula de música com o canto orfeônico, haverá melhora. Os Estados Unidos têm escolas e mais escolas musicais. Na Europa, é obrigatório ter escolas de música em todos os lugares. Você vê, pela cultura das crianças, que o modo de pensar é mais equilibrado, a “cabecinha pensa diferente” quando estudam música.
José Rubens Silva Júnior é regente do Coral da EE Ângelo Bortolo, em Bortolândia, distrito de Tremembé, na zona norte de São Paulo. São aproximadamente 30 alunos participantes.
Jornal dos Professores: Em sua opinião, qual a maior contribuição da inclusão da música na escola e quais os valores agregados à personalidade do aluno?
José Rubens Silva Júnior: A música por si só tem o poder de unir, ela tem um cunho de socialização muito forte e que vem bem a calhar dentro da escola que é um lugar de muitos conflitos. A capacidade de inserção social e o respeito mútuo que a música integra entre alunos, professores,
funcionários e a comunidade, talvez sejam os valores mais importantes.
Jornal dos Professores: Quais as dificuldades que o educador enfrenta para ensinar música nas escolas públicas?
José Rubens Silva Júnior: Todas imagináveis possíveis, desde material musical, espaço físico, horário de ensaio, etc., tendo em vista que sou professor de inglês e meu trabalho de música é todo
voluntário, fora do horário letivo.
Jornal dos Professores: Cite um exemplo no qual a música fez toda a diferença na vida de um aluno.
José Rubens Silva Júnior: Meu ex-aluno Renato Rocha Silva começou a cantar em nosso coral escolar em 2009, quando ainda tinha 15 anos de idade. Depois passou a cantar na banda de rock “Censura Livre”, também criada por nós e composta pelos alunos da escola e nela começou a aprender violão com os integrantes. De lá para cá, ele não parou mais. Hoje, 2015, aos 21 anos de idade, ele é conhecido artisticamente como Renato Café, e fez curso técnico de canto, oficinas de teatro, já tocou em bares, shows e festas, é ator, compositor e cantor.
Matéria extraída do "Jornal dos Professores" - Publicação do Centro do Professorado Paulista - Ed. Agosto de 2015 n. 458, p. 7.
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