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06/07/2025

TEORIAS

A tendência de populações assalariadas e vulneráveis apoiarem políticas que favorecem os mais ricos, perpetuando o status quo de uma elite, pode ser explicada por diversas teorias sociológicas, políticas e psicológicas. Seguem as principais teorias que ancoram esse fenômeno, com uma explicação concisa de cada uma:

1. **Hegemonia Cultural (Antonio Gramsci)**:  

   A elite dominante estabelece uma narrativa cultural que faz com que suas ideias e valores sejam percebidos como "senso comum". Trabalhadores e grupos vulneráveis internalizam essas ideias, acreditando que políticas que beneficiam os ricos (como cortes de impostos para grandes empresas) também são do seu interesse, mesmo quando não há benefícios diretos. A mídia, a educação e as instituições reforçam essa hegemonia, obscurecendo os conflitos de classe.

2. **Falsa Consciência (Karl Marx)**:  

   Derivada do marxismo, essa teoria sugere que a classe trabalhadora pode não reconhecer seus próprios interesses de classe devido à manipulação ideológica da elite. Assim, apoiam políticas que perpetuam sua exploração, como desregulamentações ou flexibilização trabalhista, acreditando que essas medidas trarão prosperidade geral.

3. **Teoria da Escolha Racional**:  

   Indivíduos podem apoiar políticas pró-elite por acreditarem que, mesmo sendo desvantajosos a curto prazo, podem trazer benefícios futuros (ex.: "efeito cascata" da economia). Essa escolha é frequentemente baseada em informações limitadas ou promessas de mobilidade social, como a ideia de que "qualquer um pode enriquecer" com trabalho árduo.

4. **Psicologia da Identidade Social (Henri Tajfel)**:  

   Pessoas vulneráveis podem se identificar com valores ou símbolos associados à elite (como nacionalismo, meritocracia ou consumismo), levando-as a apoiar políticas que reforçam esses ideais, mesmo que isso perpetue desigualdades. Por exemplo, o orgulho de pertencer a uma nação "próspera" pode levar ao apoio a políticas econômicas neoliberais.

5. **Teoria do Sistema Justificado (John Jost)**:  

   Essa teoria da psicologia social argumenta que as pessoas tendem a justificar o sistema social em que vivem, mesmo quando ele é desigual. Grupos vulneráveis podem aceitar a desigualdade como "natural" ou "inevitável", legitimando políticas que favorecem a elite para reduzir a dissonância cognitiva e manter uma sensação de ordem.

6. **Manipulação Populista e Polarização**:  

   Líderes populistas frequentemente desviam a atenção das desigualdades econômicas ao enfatizar questões culturais ou identitárias (ex.: imigração, segurança). Isso faz com que populações vulneráveis apoiem candidatos ou políticas que, na prática, favorecem a elite econômica, enquanto acreditam estar defendendo seus próprios interesses culturais ou sociais.

7. **Teoria da Dependência e Clientelismo**:  

   Em contextos onde há forte dependência de benefícios estatais ou redes clientelistas, populações vulneráveis podem apoiar políticas pró-elite por medo de perderem acesso a recursos escassos (ex.: programas sociais, empregos). Políticos exploram essa dependência para garantir apoio, mesmo que as políticas mantenham a desigualdade estrutural.

8. **Aspiracionalismo e Ideologia Meritocrática**:  

   A crença na mobilidade social e no mérito individual faz com que trabalhadores vejam as políticas pró-elite como um caminho para ascenderem à classe dominante. A narrativa de que "trabalho duro leva ao sucesso" obscurece as barreiras estruturais, levando ao apoio a medidas que beneficiam os ricos, como redução de impostos para grandes fortunas.

### Considerações Finais:

Essas teorias se complementam e operam em conjunto em diferentes contextos. Fatores como acesso à educação, exposição à mídia, nível de organização coletiva (ex.: sindicatos) e crises econômicas influenciam a força de cada mecanismo. No Brasil, por exemplo, a combinação de clientelismo, hegemonia cultural via mídia e aspiracionalismo pode explicar parte do apoio de classes populares a políticas neoliberais ou conservadoras.

Texto de Wellington Luiz

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