FAORO, Raymundo
Na monarquia patrimonial, o rei se eleva sobre todos os súditos, é o senhor da riqueza territorial, dono do comércio – o reino tem um dominus, um titular da riqueza eminente e perpétua, capaz de gerir as maiores propriedades do país, dirigir o comércio, conduzir a economia como se fosse empresa sua.
O sistema patrimonial, ao contrário dos direitos, privilégios e obrigações fixamente determinados do feudalismo, prende os servidores numa rede patriarcal, na qual eles representam a extensão da casa do soberano.
O Reino Português apresentava um destino patrimonial de preponderância comercial. O mundo social e político de Portugal se caracterizava por guerra, existência de um quadro administrativo, comércio, supremacia do príncipe, oriunda da queda de uma dinastia, consolidada numa atalha, amadurecida com a expedição de Ceuta.
Com a queda da dinastia Afonsina, ergue-se a dinastia de Avis – a plataforma social e política do mundo desconhecido pelas audaciosas naus de Vasco da Gama (Os Lusíadas).
Neste contexto, ocorrem as incursões no mundo árabe, distanciando-se da renda fundiária e da circulação das feiras internas, inaptas a sustentar a grande empresa marítima, ou seja, a contração econômica no mercado interno.
A comunidade se caracteriza pelo estamento.
Desta forma, o capitalismo comercial, politicamente orientado, só ele compatível com a organização política estamental, sempre gradativamente burocrática, ajusta a si o direito, limita a ideologia econômica, expande-se em monopólios, privilégios e concessões.
O Brasil é identificado como a terra a explorar, como herdeiro da revolução de Avis e da corte de Dom Manoel.
Conforme salienta Faoro, neste contexto de exploração:
“A política da força faz mártires, e os mártires, como sabeis, ressuscitam; a política da corrupção faz miseráveis, e os miseráveis apodrecem antes de morrer”.
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