Este é o texto que deveríamos enviar àqueles amigos, amigas, meninos e meninas, que olham para os últimos 50 anos e falam com desdém, como se nada de válido ou de valor tivesse sido construído.Seja por ignorância, má-fé, oportunismo político ou mera amnésia histórica, convém que leiam e reflictam. Um pouco de lucidez, memória e cultura geral nunca fez mal a ninguém.
“Não sabes. E por isso falas.
Defendes o passado com peito cheio e voz alta - um passado que não viveste, que não viste, que nunca te tocou.
Replicas frases feitas, engoles mentiras vestidas de saudade, e apontas o dedo à democracia como se ela fosse um erro, como se a liberdade tivesse sido uma escolha errada.
Mas tu não sabes.
Não sabes o que foi viver com medo de falar, de escrever, de pensar.
Não sabes o que foi ver um pai arrancado de casa por uma denúncia anónima.
Não sabes o que foi uma mulher obrigada ao silêncio, à sombra, ao canto da sala.
Não sabes o que foi crescer analfabeto porque estudar era luxo.
Não sabes o que foi morrer numa guerra que nunca foi tua, com 20 anos e o coração num mato longe de casa.
E, pior ainda, não queres saber.
Ignoras os relatos, desprezas os sobreviventes, e com isso insultas uma geração que sofreu, que resistiu, que lutou para que hoje tu pudesses escrever o que quiseres nas redes sociais, votar em quem quiseres, insultar os políticos sem receio de ser preso.
É fácil falar do Estado Novo quando nunca levaste com o peso da sua bota.
É cómodo criticar os últimos 50 anos quando nunca estiveste nos primeiros 48.
És livre - e é essa liberdade que usas para elogiar o regime que te proibiria de a ter.
Enquanto tu falas, eles desaparecem.
A geração que viveu o medo, que conheceu a censura, que chorou os mortos da guerra e os silêncios da prisão, está a apagar-se.
E não é só a idade que os leva - é o esquecimento, é a mentira repetida, é o desrespeito.
Respeita.
Cala-te e ouve.
Aprende antes de falares.
Porque defender a ditadura em pleno século XXI é cuspir na cara de quem lutou para que tu pudesses ter opinião.
E isso não é ignorância.
É crueldade.”
Texto: Guilherme Alberto
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